A única razão pela qual um guerreiro está vivo é para
lutar. E a única razão pela qual um guerreiro luta é para vencer.
Miyamoto
Musashi
O Livro
dos Cinco Anéis
A
MÚSICA
SUN AND STEEL
Piece of Mind
1983
Letra de Bruce Dickinson
Você matou seu primeiro homem aos 13 anos.
Instinto
assassino, animal supremo.
Aos
16 anos você já aprendeu a lutar.
O
caminho do guerreiro, você tomou como seu direito.
Luz
do sol, caindo no seu aço.
Morte
em vida é o seu ideal.
A
vida é como uma roda.
Luz
do sol, caindo no seu aço.
Morte
em vida é o seu ideal.
A
vida é como uma roda.
Entre terra e água, fogo e vento,.
Você chegou afinal – nada era o
fim.
Fizeram um corte de fogo e pedra.
Pegaram
você e a sua lâmina e partiram em dois.
Partiram
em dois!
Luz
do sol, caindo no seu aço.
Morte
em vida é o seu ideal.
A
vida é como uma roda.
Luz
do sol, caindo no seu aço.
Morte
em vida é o seu ideal.
A
vida é como uma roda, rolando e rolando.
Luz
do sol, caindo no seu aço.
Morte
em vida é o seu ideal.
A
vida é como uma roda.
Luz
do sol, caindo no seu aço.
Morte
em vida é o seu ideal.
A
vida é como uma roda.
Luz
do sol, caindo no seu aço.
Morte
em vida é o seu ideal.
A
vida é como uma roda.
Luz
do sol, caindo no seu aço.
Morte
em vida é o seu ideal.
A vida é como uma roda - e continua rolando.
O
FILME
SHICHININ NO SAMURAI (OS SETE SAMURAIS)
1954
Dirigido por Akira Kurosawa
Escrito por Akira Kurosawa, Shinobu
Hashimoto e Hideo Oguni
A letra, escrita por Bruce Dickinson, é sobre o lendário espadachim japonês Miyamoto Musashi, considerado o maior samurai de todos os tempos. Embora simples, ela diversas referências à vida de Musashi, como sua primeira vitória aos 13 anos e sua peregrinação como guerreiro aos 16. O trecho “entre terra e água, fogo e vento, você chegou afinal – nada era o fim” também faz referência a capítulos d’O Livro dos Cinco Anéis: Terra, Água, Fogo, Vento e Vazio, escrito por Musashi. A expressão “...corte de fogo e pedra” também é o nome de um golpe descrito no livro. Embora seja uma música empolgante, ela nunca foi tocada ao vivo pela banda e não agrada a alguns fãs.
Existem dezenas de filmes sobre a vida de Musashi que poderiam ter sido escolhidos, alguns até notáveis, como a trilogia Samurai de Hiroshi Inagaki, porém, optei pelo melhor filme de samurai de todos os tempos: Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa. Esse épico japonês de mais três horas está habitualmente entre os 5 melhores filmes de listas elaboradas por críticos de cinema, ao lado de Poderoso Chefão II e Cidadão Kane. Ele serviu de inspiração para diversos diretores e produtores consagrados de Hollywood e foi um divisor de águas na história do cinema.
A história se passa em 1586 durante o período Sengoku da história japonesa, também vivido por Musashi. Segue a história de uma vila de agricultores que querem contrar um rōnin (samurai sem mestre) para combater bandidos sempre assaltam o vilarejo no período após as colheitas. Um samurai atende ao pedido e convida outros seis samurais para ajudá-lo a ensinar às pessoas a como se defenderem sozinhas em troca apenas de comida durante a empreita. A grande batalha acontece quando 40 bandidos atacam a vila, mas a preparação por si só já rende uma experiência única e profunda. O ápice do filme é uma batalha na chuva, com muita lama e cavalos, primorosamente coordenada por Kurosawa, que se tornou um marco cinematográfico.
É
recomendada também a trilogia Samurai I: Musashi Miyamoto (1954), Samurai II:
Duelo no templo Ichijoji (1955) e Samurai III: Duel na ilha Ganryu (1956),
estrelada por Toshiro Mifune como Musashi Miyamoto.
O
TEMA
Miyamoto Musashi com duas bokutos
Estampa Japonesa de Utagawa Kuniyoshi
(1846)
Miyamoto Musashi (Shinmen
Musashi-no-Kami Fujiwara no Genshin) nasceu em 1584 no fim do período Sengoku
do Japão, marcado pelo declínio do feudalismo e uma quase-constante guerra
civil pela unificação do império. Nessa época, embora as armas de fogo já
tivessem sido introduzidas pelos portugueses desde 1543, seu emprego era escasso
e as batalhas eram dominadas por espadas, notoriamente empunhadas pelos lendários
samurais. Portanto, tanto seu pai, Shinmen Munisai, quanto seu avô, Hirata
Shōgen, eram habilidosos espadachins. Este último inclusive conquistou o
direito de portar o nome da linhagem Shinmen por seu destaque servindo o senhor
do castelo Takayama, Shinmen Iga.
Desde seu nascimento, Musashi recebeu uma criação dura
e impessoal por parte de seu pai, que cobrava dele árdua disciplina com a arte
da jutte. Semelhante a um espeto, a jutte é uma arma metálica de
aproximadamente 45 centímetros de comprimento, cabo de cordões e com uma haste
próxima à empunhadura que permitia desarmar o adversário ou até mesmo quebrar
espadas. O nome jutte (jitte) significa “dez mãos”, porque o samurai tinha sua
força multiplicada por dez graças à alavanca formada pela arma. Essa era uma
das especialidades da família de Musashi.
Aos 7 anos, ele mudou-se com o tio para frequentar o
templo Shoreian e aprender budismo, artes marciais, escrita, filosofia e o
domínio da espada. Quando fez 13 anos, um samurai chamado Arima Kihei apareceu
em sua cidade e se dispôs a duelar com quem se interessasse, conforme era
costume na época. Musashi, embora extremamente jovem, se inscreveu para o desafio,
que foi aceito por Kihei. No horário acordado, seu tio apareceu desesperado implorando
pelo perdão de seu ingênuo sobrinho pois sabia da inevitável derrota que ele
sofreria. Entretanto, Musashi surgiu portando uma bokuto, um longo bastão de
madeira que substituía a espada em treinamentos, algo extremamente incomum em
um duelo real. Antes que Kihei pudesse reagir, ele correu em sua direção e
desferiu um único golpe entre os olhos do adversário, que caiu e foi
brutalmente espancado até a morte. Essa foi apenas a primeira vitória.
Aos 15, ele se tornou realmente um guerreiro, abandonou
todos os seus bens e partiu no musha shugyô, uma espécie de peregrinação onde o
espadachim viaja por todo Japão duelando com adversários notáveis buscando
evoluir sua técnica. Aos 16, ele lutou na famosa batalha de Sekigahara, entre
os clãs Toyotomi e Tokugawa, que buscavam dominar o império. Embora tenha sido
muito exitoso defendendo os Toyotomi, aos quais sua família era subordinada,
Musashi abandonou o conflito depois de matar algumas dezenas de adversários e
não sofrer um arranhão sequer. Provavelmente os interesses políticos que
motivavam a disputa não lhe interessavam tanto quanto duelar e evoluir enquanto
espadachim.
Aos 21, chegou à cidade de Kyoto, dominada pela Escola
Yoshioka. Musashi prontamente desafiou o mestre Yoshioka Seijūrō, que concordou
em um duelo não-letal, possivelmente confiante de que seria um massacre. Como
se tornou um costume, Musashi chegou três horas atrasados para o duelo, o que
era considerado extremamente ofensivo. Para piorar, ele novamente portava
apenas uma bokuto em um duelo sério. Ultrajado, Seijūrō tentou atacar Musashi,
mas recebeu um golpe tão forte na clavícula esquerda que desmaiou com a dor.
Após essa derrota humilhante, Seijūrō não poderia mais ser o mestre da escola e
se exilou um templo budista. Seu posto foi herdado por seu irmão mais novo, de
igual talento, Yoshioka Denshichirō.
Denshichirō desafiou Musashi no mesmo dia para tentar
recuperar o prestígio da instituição. Novamente, Musashi chegou atrasado. Denshichirō
portava um porrete reforçado com anéis de metal, conhecido como jō, e Musashi
portava sua tradicional espada de madeira usada em treinos. Dessa vez, o Yoshioka
atacou primeiro com toda sua fúria, mas Musashi deu um passo para o lado,
desviou do ataque e acertou um único golpe na cabeça de Denshichirō, que morreu
instantaneamente. A batalha durou três segundos de acordo com duas fontes
independentes.
O último herdeiro do clã era um garoto de 12 anos
chamado Yoshioka Matashichiro. Ele obviamente não era um adversário à altura,
mas havia o dever moral de defender seu nome. O plano então foi marcar o duelo
contra Musashi na hora mais escura da noite e levar consigo um batalhão de
guerreiros fortemente armados para assassinar o adversário. Desconfiado,
Musashi dessa vez chegou três horas mais cedo e se escondeu no centro do local
onde ocorreria o duelo. Quando a trupe de Matashichiro chegou, assumindo que o desafiante
estava novamente atrasado, eles baixaram a guarda, o que permitiu que Musashi
emergisse e matasse Matashichiro em um único golpe, dessa vez com uma espada de
verdade. Em dois dias e aos 21 anos, Musashi encerrou uma dinastia e uma escola
de espadachins.
Para fugir dos guerreiros de Matashichiro, Musashi fez
algo nunca feito por nenhum samurai até então: sacou uma segunda espada. Com
isso, ele não só abriu seu caminho para a fuga sem sofrer sequer um arranhão
como inventou a técnica Niten Ichi Ryu (dois céus como um) de luta com duas
espadas, ensinada até hoje na tradição japonesa. Depois desse episódio, Musashi
se dedicou a este estilo pelo resto da vida, comumente empregando duas bokutos.
Talvez o episódio mais famoso de sua vida foi aos 28
anos, na luta contra Sasaki Kojirō, considerado o maior mestre da nodachi, uma katana
longa empunhada com as duas mãos. O duelo foi acertado para ocorrer em uma ilha
remota, provavelmente para evitar que os discípulos de Kojirō tentassem
assassinar Musashi caso o duelo fosse perdido. Como era de se esperar, o desafiado
novamente se atrasou por horas. Dessa vez porque pegou carona em um barco de
pescador e aproveitou o tempo para improvisar uma bokuto de um remo do barco,
uma vez que esquecera de levar uma espada para o duelo.
Ao chegar na ilha, Kojirō estava furioso com Musashi e
profundamente ofendido pelo atraso e pela pretensão do adversário em empregar
uma arma de treinamento contra ele. Ele então jogou sua bainha no chão e partiu
para o ataque com seu golpe especial, Tsubame Gaeshi, ou corte da andorinha. Musashi
conseguiu desviar e se virou de modo que o sol atingisse direto os olhos de Kojirō.
Com essa estratégia de cegar o adversário, talvez cuidadosamente planejada
inclusive com seu atraso para ter a posição correta do sol, Musashi desferiu um
único golpe e matou Kojirō. Essa foi a última vez que ele matou alguém em um
duelo, dada a tristeza que sentiu porque o mundo perdeu um grande mestre.
Entre 1614 e 1615 ele voltou a lutar em uma batalha envolvendo
os clãs Toyotomi e Tokugawa, mas não é claro por qual lado ele lutou. Talvez
pelos dois, apenas pela arte de lutar. Na segunda metade de sua vida, Musashi adotou
três filhos e treinou diversos discípulos. Além disso, deixou vários escritos,
dentre eles sua magnum opus O livro dos Cinco Anéis, que é uma mistura de
autobiografia e ensinamentos tanto de luta quanto de vida. Ele morreu na
caverna de Reigandō por volta de 13 de junho de 1645. No momento da morte, ele se
levantou, apertou o cinto e ajeitou sua espada. Então se sentou com um joelho
levantado verticalmente, segurando a espada com a mão esquerda e uma bengala na
mão direita. Morreu nessa postura, aos sessenta e dois anos, e foi consagrado para
sempre como um kensei, um santo da espada japonês.
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