Amigos, romanos, compatriotas, me deem ouvidos. Venho
para enterrar César, não para elogiá-lo. O mal que os homens fazem vive depois
deles. O bem é frequentemente enterrado com seus ossos. Que assim seja com
César.
Marco
Antônio
Júlio César,
peça de William Shakespeare
A
MÚSICA
THE EVIL THAT MEN DO
Seventh Son of a Seventh Son
1988
Letra de Smith, Dickinson e Harris
O amor é uma navalha
E eu caminhei por aquela lâmina prateada.
Dormi na poeira com sua filha,
Os olhos dela vermelhos com a destruição da inocência.
E eu rezarei por ela,
Gritarei seu nome alto.
Eu sangraria por ela,
Se pelo menos eu pudesse vê-la agora.
Vivendo no fio da navalha.
Balançando no abismo.
Vivendo no fio da navalha.
Balançando no abismo.
Balançando no abismo.
Vivendo no fio da navalha.
Balançando no abismo.
Você sabe, você sabe!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
Círculo de fogo, meu batismo de alegria
E parece chegar um fim.
A sétima ovelha morta,
O livro da vida está aberto diante de mim.
E rezarei por você
E algum dia talvez eu retorne.
Não chore por mim,
No além foi onde aprendi.
Vivendo no fio da navalha.
Balançando no abismo.
Vivendo no fio da navalha.
Você sabe, você sabe!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
Vivendo no fio da navalha.
Balançando no abismo.
Vivendo no fio da navalha.
Você sabe, você sabe!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
O mal que os homens fazem vive para sempre!
O mal,
O mal,
O mal que os homens fazem!
O mal,
O mal,
O mal que os homens fazem!
O
FILME
JULIUS CAESAR (JÚLIO CÉSAR)
1953
Dirigido e escrito por Joseph L.
Mankiewicz
The Evil that Men Do é a quarta música do álbum
conceitual Seventh Son of a Seventh Son. Embora seu título seja inspirado pelo
discurso de Marco Antônio presente no Ato III, Cena II da peça Júlio César, de
William Shakespeare, a letra na verdade está relacionada à história de o sétimo
filho do sétimo filho que o álbum conta. Entretanto, como pretendo analisar
essa história no post sobre a faixa-título deste álbum, escolhi como tema o
discurso que o título faz referência.
Dentre as várias adaptações de Júlio César para o
cinema, escolhi o épico da MGM de 1953 porque ele traz uma atuação brilhante de
Marlon Brando como Marco Antônio. Eu já havia assistido à peça na coleção da
BBC e me surpreendi que o diretor tenha optado por ser fiel aos diálogos em
inglês elisabetano, uma vez que eles não são de fácil digestão mesmo para um público
americano ou britânico, por exemplo. Mas o épico em preto-e-branco mais parece
uma superprodução da peça do que uma adaptação e faz bom uso dos recursos que
não seriam possíveis no teatro. O bom trabalho rendeu cinco indicações ao Óscar,
inclusive uma para Marlon Brando como Melhor Ator, e venceu como Melhor Direção
de Arte.
Na trama de Shakespeare, inspirada em fatos reais, e
senado romano teme que o poder que Júlio César concentra nas mãos pode levá-lo
à tirania. Assim, Cássio, Casca e Brutus resolvem assassiná-lo. Esfaqueado
pelos conspiradores, César morre nos braços do amigo Marco Antônio. Brutus
consegue convencer a multidão que o ato foi pelo bem de Roma. Entretanto, Marco
Antônio mostra que o povo pode ser facilmente manipulado ao fazer um
emocionante discurso, que joga a turba contra os assassinos. Os conspiradores
então fogem enquanto Marco Antônio, Otávio (futuro César Augusto) e Lépido formam
o Segundo Triunvirato que governa sobre Roma.
O
TEMA
Discurso de Marco Antônio no Funeral de César
George Edward Robertson (1864-1926)
Após o assassinato, Marco Antônio foi autorizado por
Brutus e pelos outros conspiradores a fazer uma oração fúnebre por César, com a
condição de que ele não os acuse de conspiração. Tanto Brutus quanto Marco Antônio
eram muito queridos por Júlio César, sendo que este até se surpreendeu quando
Brutus lhe enterrou a última facada dizendo “Até tu, Brutus?”, de modo que Antônio
estava ultrajado e enfurecido com o ocorrido. Entretanto, se ele revelasse suas
emoções, seria prontamente censurado pelos demais.
Quando Brutus fala ao povo, ele procura deixar claro
que agiu pelo melhor interesse de Roma, uma vez que Júlio César estava tomado
por ambição e na eminência de tomar o poder para si. O fato de ele ser um homem
de confiança, o discurso inflamado e a promessa de que a mesma adaga que matou César
estava à disposição do povo caso ele próprio também fosse tomado por ambição,
os presentes se compadeceram de sua causa e passaram a vaiar o cadáver de César.
Marco Antônio é
então autorizado a honrar César, porém com o público já convencido pelos assassinos
e contrariado com o morto. Ele começa seu discurso:
Amigos,
romanos, compatriotas, me deem ouvidos. Venho para enterrar César, não para
elogiá-lo. O mal que os homens fazem vive depois deles. O bem é frequentemente
enterrado com seus ossos. Que assim seja com César.
O bom Brutus
disse que César era ambicioso. Se for verdade, eis um grave crime. E César foi
punido gravemente. Com permissão de Brutus e os outros todos — Porque Brutus é
um homem muito honrado; e os outros todos, homens muito honrados — Venho falar
no funeral de César.
Foi meu
amigo, justo, bom, leal; Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E Brutus é um
homem muito honrado. Vários cativos César trouxe a Roma, cujo resgate encheu os
cofres públicos: Isso em César parece ambicioso? Vendo os pobres chorar, também
chorava; A ambição deve ter metal mais duro: Mas Brutus diz que ele era
ambicioso. E Brutus é um homem muito honrado. Vocês viram, nas Festas
Lupercais, que lhe ofereci três vezes a coroa. Três vezes ele recusou. Isso é
ambição? Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E, claro, ele é um homem muito
honrado.
Não venho
contrariar o que ele disse, Só vim dizer o que eu conheço e sei. Todos vocês,
um dia, amaram César, E não foi sem razão; então me digam: O que os impede de
chorar por ele? Ah, Juízo! Fugiste às bestas-feras. E os homens estão loucos!
Um momento, minha alma entrou neste caixão com César. Devo calar, até que ela
volte a mim.
Note que ele fala de forma totalmente irônica sobre
Brutus e vai, aos poucos, levando o povo a concluir que César não era ambicioso,
porém sem jamais quebrar sua promessa de não falar contra os conspiradores.
Quando retoma o discurso, após uma pausa para retomar a si, Marco Antônio revela
estar de posse do testamento de César.
Em vez de ler o testamento imediatamente, ele
concentra a atenção da multidão no corpo de César, apontando suas feridas e
enfatizando a traição dos conspiradores por um homem que confiava neles, em
particular a traição de Brutus ("Juízes,
ó deuses, como César o amava!") Em resposta à paixão da multidão,
Antônio nega que esteja tentando agitá-los ("Não venho, amigos, para roubar seus corações") e implica que
Brutus os manipulou através de uma retórica enganosa. Os compatriotas ficam
horrorizados com a cena do corpo esfaqueado e revoltados com as palavras ditas
anteriormente por Brutus.
Depois disso, Marco Antônio dá seu golpe final
revelando à multidão o testamento de César, no qual "a cada cidadão romano, a todos os homens, ele dá setenta e cinco
dracmas", que são moedas de pratas, além de muitos terrenos. O
testamento em si provavelmente era uma invenção de Antônio, mas serviu muito
bem para inflar o povo e restabelecer a imagem do grande Júlio César.
Ele termina seu discurso com um dramático questionamento:
"Eis um César, quando haverá outro?".
Assim ele fecha seu discurso e incendia o público à revolta, forçando os conspiradores
a fugir por suas vidas.
Marco Antônio então diz a si mesmo, sorrindo: "E que o fogo se espalhe. Golpe, estás
lançado. Tome o caminho que desejar".
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